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Como aproveitar as novas oportunidades do mercado de carbono

07/05/25

Baixo Carbono | Meio Ambiente

Como aproveitar as novas oportunidades do mercado de carbono

A advogada Natália Braga Renteria, docente-líder do curso Mercados de Carbono e Agro, do Insper, explica por que entender esse tema é estratégico para profissionais de todas as áreas

Nos dias 4 e 5 de julho, o Insper promove o curso de educação executiva Mercados de Carbono e Agro, voltado a profissionais que desejam entender, na prática, como funciona o mercado de carbono e como ele impacta — e abre oportunidades — para os setores produtivos no Brasil, com foco especial no agronegócio. O curso combina teoria, estudos de caso e aplicação prática para preparar os participantes a navegarem com segurança pelos mercados regulado, voluntário e jurisdicional, à luz do novo marco legal brasileiro.

À frente do curso está Natália Braga Renteria, advogada, doutora em governança climática pela Université Catholique de Louvain (Bélgica) e especialista em mercado de carbono. Executiva com atuação em projetos climáticos, Natália desenhou um programa abrangente, que reúne professores altamente especializados e traz o olhar de quem atua diretamente nos bastidores da regulamentação e implementação de projetos no Brasil.

Natália esclarece que, apesar do título do curso remeter ao agronegócio,  o interesse do programa não se restringe a ele. Como explica na entrevista a seguir, o conteúdo interessa a todos os profissionais que desejam entender com profundidade o funcionamento do mercado de carbono, suas implicações regulatórias, econômicas e estratégicas — e como posicionar negócios e carreiras em um cenário de transição climática cada vez mais urgente.

A quem se destina este curso?
Acredito que este curso se destina a todo profissional que deseja compreender o atual cenário de transição climática e economia de carbono. Muitos profissionais são altamente qualificados em suas áreas, mas ainda não estão familiarizados com o funcionamento desse mercado — e o tema já está batendo à porta de empresas, consultorias, governos e negócios de todos os tipos.

As dúvidas são comuns: essa oportunidade é real? É para agora ou para o futuro? Que mudanças preciso fazer no meu negócio? Quais informações são confiáveis? Como me posicionar estrategicamente? Se você já se fez alguma dessas perguntas, este curso é para você.

Nosso objetivo é capacitar os participantes a entender esse cenário com clareza, desenvolver um olhar crítico e posicionar suas atividades e negócios nesse novo contexto — que já está em movimento e tende a se acelerar ainda mais nos próximos anos.

 

O que o curso do Insper tem de diferencial em relação a outros que abordam o mesmo tema?
O diferencial está na solidez conceitual aliada à aplicação prática. O curso foi estruturado para formar uma base de conhecimento robusta, aprofundando nas questões fundamentais do mercado de carbono. Ele é dividido em dois momentos complementares, que proporcionam ao participante autonomia e capacidade crítica ao final da experiência.

No primeiro dia, abordamos os fundamentos: mercado regulado, mercado voluntário, mercado jurisdicional e os mecanismos internacionais previstos no Artigo 6º do Acordo de Paris — temas complexos e ainda pouco acessíveis. Costumo chamar esse momento de um verdadeiro “banho de loja” conceitual: um alinhamento de conhecimentos difícil de encontrar reunido com essa profundidade e clareza.

No segundo dia, mergulhamos no contexto do agronegócio, analisando o que está acontecendo na prática: como os projetos estão sendo estruturados, quais os desafios reais e as oportunidades concretas. Essa combinação entre teoria e prática é o que torna nosso curso único.

 

O curso vai trazer estudos de caso. Pode dar um exemplo?
Sim, vamos apresentar dois estudos de caso reais de projetos no mercado voluntário ligados ao agronegócio. E o mais interessante é que os próprios responsáveis por esses projetos estarão presentes no curso, compartilhando em primeira pessoa como os projetos foram concebidos, quais metodologias foram utilizadas e quais foram os principais aprendizados.

Sem querer dar spoiler, posso adiantar que um dos casos vai tratar do desenvolvimento de um projeto de carbono em pastagens — uma das muitas possibilidades dentro do agro. Existem outras, que também abordaremos ao longo do curso. Em algumas delas, vamos entrar em maior profundidade para mostrar como tudo isso funciona na prática.

 

De que maneira o novo marco regulatório do mercado de carbono, aprovado em dezembro de 2024, impacta o setor do agro?
A legislação aprovada reconhece três sistemas de mercado de carbono no Brasil: regulado, voluntário e jurisdicional. O mercado regulado, também chamado de sistema de comércio de emissões, que tem base economy wide, foi estruturado de forma a não incluir o agro primário. Ou seja, o setor ficou de fora do mercado de compliance, que é obrigatório.

No entanto, isso não significa que o agro esteja excluído das oportunidades. Pelo contrário: o setor pode — e deve — atuar fortemente no mercado voluntário, que tem grande potencial para atrair capital e financiar a transição para práticas mais sustentáveis. Essa transformação pode ocorrer tanto por meio de projetos que geram créditos de carbono quanto pela valorização de produtos dentro das cadeias produtivas. Nesse mercado, destacam-se dois mecanismos: o offsetting (compensação com geração de crédito) e o insetting (valorização ambiental dentro da própria cadeia, sem geração de crédito).

Além disso, o mercado jurisdicional, uma vertente mais recente, vem ganhando destaque. Ele envolve ações em nível estadual e pode beneficiar especialmente pequenos e médios produtores, integrando-os a programas regionais de combate ao desmatamento e de transição climática.

Por isso, é fundamental que os profissionais do agro — e de outros setores — desenvolvam um olhar crítico para identificar o que se aplica ao seu contexto e como aproveitar essas oportunidades. No curso, vamos explorar esses aspectos com profundidade, sempre com base em casos reais e experiências concretas.

 

Considerando o cenário atual de mudanças climáticas e a crescente pressão por práticas sustentáveis, qual é a importância do mercado de carbono para o agro brasileiro?
O mercado de carbono deve ser visto como um instrumento estratégico de atração de capital. Ele tem o potencial de viabilizar financeiramente a transição climática, que exige investimentos em novas práticas e tecnologias. Nesse sentido, é uma ponte entre sustentabilidade e viabilidade econômica — especialmente relevante para o agro, que precisa manter competitividade em um cenário global cada vez mais exigente.

Além disso, há uma vantagem de credibilidade. Quando uma região está inserida em um mercado jurisdicional, há controle estadual mais robusto sobre desmatamento e degradação ambiental, com dados de comando e controle consistentes. Isso confere uma chancela institucional que agrega valor aos produtos da região.

Produtores inseridos em Estados com programas jurisdicionais terão mais facilidade para acessar mercados internacionais que exigem rastreabilidade e garantias de origem sustentável. Ou seja, além de abrir portas para financiamento — uma vantagem direta —, o mercado de carbono traz ganhos estratégicos que ajudam a posicionar melhor os negócios em cadeias globais diferenciadas.

 

Em novembro deste ano, o Brasil sedia a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. Esse evento tem relação com o tema do curso?
Sem dúvida. O Brasil vive um momento único de expansão regulatória e amadurecimento do mercado de carbono. A aprovação recente do novo marco legal, que reconhece três tipos de mercado, mostra que o país está se preparando para assumir um papel de protagonismo global — e a COP30 será um marco nesse processo.

Esse movimento já está em curso e tende a se intensificar. Por isso, os profissionais precisam desenvolver o que chamamos de “inteligência de carbono”: entender os diferentes modelos, reconhecer oportunidades e tomar decisões estratégicas com base em informação qualificada.

A COP30 funciona como uma linha de chegada e, ao mesmo tempo, de partida. Ela consolida avanços e lança novas agendas. Entender o que já está acontecendo e o que está por vir é um diferencial competitivo — e é exatamente isso que o curso propõe.

 

Mais algum ponto que gostaria de destacar sobre o curso?
Sim. Embora o nome do curso seja Mercados de Carbono e Agro, ele é muito mais abrangente. O agro é intrinsecamente parte do mercado de carbono e está presente em muitos exemplos do curso, mas o conteúdo foi pensado para profissionais de qualquer setor que queiram compreender a fundo como esse mercado funciona.

É um curso voltado a quem busca formação sólida, conteúdo atualizado e aplicável, com professores que realmente atuam no mercado e dominam o tema. Ele oferece uma transformação real no nível de conhecimento: o participante entra com uma visão geral e sai com uma compreensão crítica, capaz de analisar cenários, reconhecer riscos e oportunidades e tomar decisões bem fundamentadas. Nosso objetivo é este: desenvolver o espírito crítico e oferecer ferramentas para atuar com segurança e autonomia no mercado de carbono.

 

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