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O Brasil deve assumir protagonismo na agenda global de descarbonização

02/05/24 - Victor Martins Cardoso

Meio Ambiente | Baixo Carbono

O Brasil deve assumir protagonismo na agenda global de descarbonização

Em mesa-redonda, o professor Satyajit Bose, da Universidade Columbia, defendeu a liderança brasileira no financiamento de projetos sustentáveis.

Na última sexta-feira (26/4), o Insper Agro Global organizou a mesa-redonda “Finanças Verdes”, que contou com a presença de Satyajit Bose, professor e diretor associado do Programa de Gestão da Sustentabilidade da Universidade Columbia, em Nova York (School of Professional Studies e Columbia Climate School) e também professor do curso Agro e Meio Ambiente, promovido pelo Insper Agro Global e a Columbia Climate School. A pesquisa do professor se concentra em áreas como o valor da informação ESG, a precificação de carbono, o impacto do investimento em carteiras no desenvolvimento sustentável em mercados emergentes e a utilização de métricas ambientais para decisões de investimento de longo prazo.

Durante o bate-papo, Bose analisou o atual mercado de créditos de carbono e destacou o papel de protagonismo que o Brasil precisa construir, apesar de todos os obstáculos existentes. O desafio de integrar o sistema financeiro global à transição para uma economia verde também foi abordado nas discussões. O professor dissertou sobre como esse sistema foi se moldando após a 2ª Guerra Mundial, quando os Estados Unidos se firmaram como potência econômica global, até os dias atuais, em que outros atores, como a China, desafiam a posição americana.  Ele lembrou que após a conferência Rio-92 e a assinatura do Protocolo de Quioto, em 1997, foi decidido que o mundo desenvolvido financiaria a preservação de florestas e a diminuição das emissões de gases que provocam o efeito estufa (GEEs). Entretanto, cerca de trinta anos se passaram e ainda pairam muitas dúvidas sobre como remunerar o sequestro de carbono e outros serviços ambientais.

No que diz respeito ao mercado de carbono de base florestal, Bose defendeu que o Brasil exerça o papel de liderança por meio da formação de uma coalizão com outros países detentores de florestas tropicais e da criação de certificação de registro própria. Mais ainda, ele acredita que o país tem um setor financeiro robusto para financiar projetos orientados a sustentabilidade nesses países. Além disso, para Bose, o Brasil seria a opção mais atrativa de financiamento verde para as nações emergentes.

Entretanto, como mencionado por participantes da mesa-redonda, há desafios que não devem ser ignorados. A probabilidade de os EUA e a União Europeia encamparem qualquer certificação de carbono criada pelos países do chamado “Sul Global” é baixa, o que poderia atrasar os planos do Brasil de inserir-se no mercado mundial de crédito de carbono. E embora se consiga engajar o setor financeiro brasileiro na pauta ambiental, a dependência de Wall Street ainda é enorme no mundo todo. Mas, para Bose, não se deve esperar que os americanos e os europeus escutem as demandas brasileiras. Segundo ele, o Brasil precisa assumir a responsabilidade e liderar a agenda, primeiramente articulando com países florestais e agrícolas a construção de métricas e metodologias próprias para empoderar os serviços ambientais como solução para descarbonização. Posteriormente, deve firmar parcerias com países desenvolvidos que não estejam atrelados a uma determinada trajetória tecnológica de descarbonização, como o Japão e a Coreia do Sul.

Por fim, o professor apresentou aos convidados o projeto “Measurement of Corporate Activity in the Amazon Economy”, uma parceria entre o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e a Universidade Columbia. O objetivo é criar um produto estruturado que será indexado a um conjunto de empresas que incentivam princípios sustentáveis para a bioeconomia da Amazônia. Bose defendeu a medição e remuneração de empresas que atuam na Amazônia de maneira positiva para o bioma, assim como a criação de métricas que sejam, de fato, relevantes para auxiliar o investidor na tomada de decisão de investimento.

 

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