Agropecuária puxa crescimento de 2,9% do PIB em 2023
07/03/24 - Victor Martins Cardoso
Wenderson Araujo/Trilux - Sistema CNA/Senar
Após forte expansão de 15,1% no ano passado, setor enfrenta um cenário de preocupações em 2024
Em 1º de março, o IBGE divulgou os resultados das contas nacionais de 2023 e revelou que o PIB brasileiro cresceu 2,9% em relação a 2022, em termos reais. Todos os setores apresentaram expansão, com destaque para a agropecuária, que cresceu 15,1% em relação ao ano anterior. Esse desempenho robusto contribuiu para um avanço do PIB total acima das expectativas de mercado.
O resultado pode ser, em grande parte, atribuído à safra recorde de grãos e ao forte desempenho das exportações. A última estimativa da Conab para a safra 2022/23 apontou que o Brasil produziu, aproximadamente, 322,8 milhões de toneladas de grãos, volume 18,4% maior do que na safra anterior. O algodão, o milho e a soja registraram grande volume de produção. Além disso, o agronegócio foi responsável por praticamente metade dos embarques brasileiros ao exterior no período, 48,6%, o que representou uma alta de 1,04 ponto percentual em comparação com 2022. Esse crescimento contribuiu significativamente para o aumento do saldo comercial do país.
Embora a agropecuária tenha apresentado um crescimento expressivo no acumulado do ano, os resultados trimestrais revelam indícios de desaceleração ao longo de 2023. Os dois primeiros trimestres registraram o melhor desempenho do setor, impulsionado pela colheita das safras de soja, milho de 2ª safra, açúcar e café. De fato, até o primeiro semestre, o crescimento acumulado do setor primário no PIB atingiu 22%. No entanto, nos seis meses subsequentes, observou-se uma desaceleração da atividade agropecuária, evidenciada pelas taxas de variação trimestrais negativas em três dos quatro trimestres de 2023.
Já o PIB do agronegócio, um conceito mais amplo do que o PIB da agropecuária, uma vez que engloba a produção do setor de insumos, da produção agropecuária, da agroindústria e de agrosserviços, dá sinais de enfraquecimento. Diferentemente do IBGE, que divulga a variação real do PIB, mantendo os preços constantes, o CEPEA/Esalq publica o PIB do agronegócio com base nos preços correntes do período, fornecendo ao produtor uma perspectiva geral do ambiente de negócios. Até o terceiro trimestre do ano passado — última atualização disponível —, o PIB do agronegócio acumulava uma queda de 0,91%, provocada pelo recuo dos preços em todos os segmentos, principalmente no de insumos. Caso esse ritmo persista, a projeção para 2023 é de queda de 1,2%, reduzindo a participação do setor para 24,1% do PIB total.
A perspectiva para 2024 é de um cenário baixista para o agronegócio. As condições climáticas adversas no Centro-Oeste, como a falta de chuvas e o calor excessivo, prejudicaram a produtividade das lavouras de grãos. Em seu mais recente levantamento, a Conab projeta que o Brasil produzirá cerca de 299,8 milhões de toneladas de grãos na safra 2023/24, uma queda de 6,3% em relação à safra anterior. O El Niño também impacta negativamente a atividade pecuária, afetando a produção de forragem e retardando a engorda do gado.
Outro fator que deverá contribuir para a desaceleração em 2024 é o retorno dos preços das commodities agrícolas para o patamar pré-pandemia. Após um ciclo de alta impulsionado pela pandemia e pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, os preços de commodities como soja, milho e café apresentam tendência de queda. Não somente as commodities agrícolas, mas a arroba do boi também entra no segundo ano consecutivo com preços fracos. Mesmo com a queda observada nos preços reais dos insumos, a desvalorização das commodities agrícolas tende a ser mais acentuada, pressionando ainda mais as margens dos produtores.
E como houve excessivos investimentos durante o período de boom de commodities, é importante notar que muitos agricultores terão de fazer um trabalho de gestão diante do novo cenário. O afrouxamento das restrições sobre os custos de produção dará lugar à contenção de gastos, freando a atividade do agronegócio brasileiro e aumentando a demanda por mais crédito e seguro. Os agentes do setor tentarão ao máximo manter as suas margens.
Embora o agronegócio brasileiro esteja ingressando em um período distinto do observado nos últimos anos, o setor demonstra grande capacidade de resiliência. Evidentemente, surgem novos pontos de preocupação nesse contexto, mas as perspectivas de médio e longo prazo permanecem positivas. O Brasil ainda vem conquistando espaço nas exportações mundiais de diversos produtos. Outro ponto de destaque é o potencial do país na produção de bioenergia. Em síntese, mesmo com a perspectiva de um 2024 mais desafiador para o agronegócio brasileiro, o setor tem motivos suficientes para acreditar em um futuro promissor.
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