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“Geopolítica dos Alimentos” mostra os desafios e as oportunidades para o agro em um cenário global complexo

02/05/24

Comercio Internacional | Geopolítica

“Geopolítica dos Alimentos” mostra os desafios e as oportunidades para o agro em um cenário global complexo

Marcos Jank e Chris Garman, professores líderes do curso

Com conteúdo inovador, curso do Insper Agro Global — em parceria com o Cebri e o apoio da Eurasia — oferece aos participantes uma imersão nos temas que moldam o futuro do agronegócio brasileiro

Em um mundo marcado por crescentes tensões geopolíticas, a segurança alimentar se destaca como um tema crucial, exigindo soluções estratégicas. O Brasil, como um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do planeta, assume um papel central nesse cenário, com responsabilidades e oportunidades únicas. Para entender os desafios e as oportunidades que se apresentam ao país nesse contexto, o Insper Agro Global, em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e com o apoio da consultoria internacional Eurasia Group, realiza nos dias 26 e 27 de junho, em São Paulo, a primeira turma do curso Geopolítica dos Alimentos.

O coordenador do Insper Agro Global, Marcos Jank, destaca que o curso aborda uma ampla gama de áreas de conhecimento, incluindo relações internacionais, geopolítica, governança global, política externa, comércio internacional, segurança alimentar, agropecuária, logística e energia. Apesar de sua duração relativamente curta, de 15 horas, o programa oferece uma cobertura abrangente de temas interconectados. Organizado em cinco módulos, o curso explora as macrotendências da geopolítica e do agronegócio, a dinâmica entre os Estados Unidos e a China, a geopolítica envolvendo a Rússia, a Ucrânia e a União Europeia, os conflitos no Oriente Médio, e conclui com uma síntese global. “É um curso inovador e pioneiro, preenchendo uma lacuna no debate nacional sobre esses temas. Até o momento, não há nenhum curso similar disponível, e o interesse que vem despertando demonstra a importância dessa iniciativa”, diz Jank, acrescentando que o curso vem atraindo não apenas empresas e representantes governamentais, mas também acadêmicos, jornalistas e profissionais do comércio internacional.

De acordo com Jank, o mundo atual se caracteriza por uma crescente fragmentação, com o surgimento de novos polos de poder e o declínio da influência das instituições internacionais tradicionais. Essa fragmentação impacta diretamente o agronegócio brasileiro, que depende de um mercado global estável e aberto. “Estamos presenciando uma crise de governança global, em que as instituições criadas no pós-guerra já não funcionam mais. A ONU enfrenta dificuldades para lidar com conflitos como os da Ucrânia e do Oriente Médio, enquanto a OMC e a COP não conseguem avançar nas agendas de comércio internacional e mudanças climáticas, respectivamente”, diz Jank. “O enfraquecimento de instituições como o Banco Mundial e o FMI amplifica esse cenário. Esse vácuo na governança global abre espaço para uma crescente fragmentação geopolítica, evidenciada pelas tensões entre Israel e Irã, assim como entre a Ucrânia e a Rússia. Vale ressaltar também as tensões entre os Estados Unidos e a China, que muitos chamam de ‘segunda Guerra Fria’.”

Christopher Garman, diretor para as Américas da Eurasia Group e um dos docentes do curso, identifica três riscos geopolíticos que podem impactar o agro brasileiro no curto, médio e longo prazos. “O primeiro risco, mais iminente, é a intensificação da crise no Oriente Médio, que poderia resultar em um aumento nos preços do petróleo global. Embora nenhum dos principais atores, como Irã, Israel, Arábia Saudita e Estados Unidos, deseje uma guerra regional, há uma tendência preocupante de escalada. O segundo risco é o conflito em curso na Ucrânia, que ainda não está resolvido, com potencial para afetar os portos de exportação de grãos caso o conflito se intensifique. Por fim, mais adiante, a grande preocupação é com a ampliação de uma guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, especialmente se Donald Trump for eleito.”

Se há riscos geopolíticos para o Brasil, há também oportunidades, como ocorreu recentemente. “A guerra na Ucrânia e a crise no Oriente Médio geraram disrupções no fornecimento global de alimentos, o que abriu espaço para o Brasil aumentar suas exportações de grãos e outros produtos agrícolas”, diz Jank. “Além disso, a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, deflagrada no primeiro governo Trump, acabou beneficiando o Brasil, que se tornou o principal fornecedor de produtos agropecuários para a China, posição antes ocupada pelos americanos. Hoje a China representa 40% das exportações do agro brasileiro, enquanto a Ásia inteira corresponde a 66% do total.” O agronegócio é responsável por 50% das exportações brasileiras — é, de longe, o setor mais importante na pauta de exportações do país. O Brasil é o terceiro maior exportador mundial, o quarto maior produtor e detém o maior saldo comercial do setor no planeta.

Para Garman, em um mundo marcado por conflitos globais, o Brasil se encontra em uma condição relativamente privilegiada. Ele observa que, caso haja uma escalada na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, é provável que mais tarifas e restrições a investimentos chineses sejam impostas pelos americanos. A China teria poucas opções de retaliação — uma delas seria aplicar tarifas sobre produtos agrícolas americanos. Nesse cenário, o Brasil poderia se beneficiar novamente, podendo ampliar ainda mais as suas exportações para a China.

“O Brasil está em uma posição muito favorável, por ser um grande fornecedor de alimentos para o mundo, especialmente considerando o potencial das novas fronteiras agrícolas de produção sem desmatamento no país. O país também pode se tornar um importante player no mercado de biocombustíveis sustentáveis e no desenvolvimento de novas gerações desses combustíveis, além de ser uma potência ambiental na produção de energia limpa”, destaca Garman. O desafio, segundo ele, está na crescente onda de protecionismo global, como se observa nas restrições de acesso ao mercado europeu, o que pode gerar dificuldades. “Além disso, os riscos geopolíticos podem aumentar o preço dos fertilizantes, e a dependência brasileira de importação desses insumos é um ponto de vulnerabilidade. Apesar desses riscos evidentes no contexto global, considero que os ativos do Brasil ainda superam os passivos”, afirma.

Para saber mais sobre o curso Geopolítica dos Alimentos, clique aqui.

 

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