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O futuro do nexo agroambiental na Europa

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A intricada relação entre políticas agrícolas e ambientais, produtividade e comércio na União Europeia é objeto de estudo do Insper Agro Global

As eleições para o Parlamento Europeu no último final de semana levantam dúvidas acerca da consolidação da pauta climática no continente. Sempre tão presente, a ponto de se constituir em um espectro político específico — “os verdes” — e expressa no ambicioso Pacto Verde europeu (Green Deal), ela pode encolher em função da nova conformação política. O centro político e liberal econômico, que manteve a maioria das cadeiras, tem argumentado em favor de parcimônia nas regulamentações ambientais. Ilustra essa posição a recente participação ativa da presidente da Comissão Europeia — o braço executivo do bloco —, Ursula von der Leyen, considerada de centro-direita, na flexibilização de regras ambientais impostas aos agricultores do bloco. Por ocasião do acirramento das manifestações dos produtores rurais, ela saiu em defesa de um diálogo ampliado com o setor para conciliar os objetivos das políticas verdes e os pleitos dos manifestantes. O descontentamento dos agricultores, manifestado nas várias incursões de tratores nas ruas do continente desde 2022, favoreceu o resultado das eleições em direção às pautas defendidas por políticos mais à direita.

O Insper Agro Global conduziu uma avaliação detalhada dos diversos aspectos que moldaram o movimento do setor produtivo europeu. Requisitos ambientais considerados excessivos, estagnação da produtividade, burocracia exagerada, geopolítica, guerra e perda de competitividade formaram um caldo que coloca em xeque a capacidade da Europa de articular estratégias que miram uma produção agrícola mais sustentável. O relatório “Tempos de crise: uma análise das manifestações agrícolas na Europa” aborda as exigências ambientais do Green Deal e sua estratégia Farm do Fork, além da Política Agrícola Comum (PAC), traçando um paralelo com a evolução da produtividade agrícola nos países do bloco.

Os subsídios sempre foram uma parte significativa da política agrícola da UE, com o objetivo de garantir a estabilidade e a competitividade, ainda que artificial, do setor. No entanto, a análise referente à evolução recente da produtividade agrícola dos principais produtos do bloco revela que os resultados não têm sido exitosos. O estudo oferece algumas explicações para isso, como o excesso de restrições ambientais, dificuldades na adoção de novas tecnologias e a falta de incentivos à inovação.

O trabalho também relaciona a invasão russa à Ucrânia e como suas consequências inflamaram ainda mais o movimento que culminou com a obtenção de uma flexibilização das obrigações ambientais. E se esse movimento já precipitou uma dificuldade da UE em manter sua ambição ambiental, a redução da bancada mais ambientalista pode pôr em perigo uma situação política estável e mais consensual para aprovação de regulamentações nesse sentido. Nessa linha, o acordo com o Mercosul, que já vinha sendo rechaçado graças às pressões dos agricultores franceses, também deve sofrer mais resistência com a eleição de eurodeputados nacionalistas.

Do ponto de vista do nexo agroambiental, a pergunta que fica é: essa nova configuração do Parlamento Europeu é uma chance para aprimorar a conciliação entre competitividade e sustentabilidade no setor agrícola europeu ou um risco ambiental? Do ponto de vista brasileiro, isso pode significar menor pressão ambiental sobre as importações agrícolas ou maior protecionismo guiado por um viés nacionalista da bancada que avança?

O estudo que foi conduzido pelos pesquisadores Lorena Liz Giusti e Santos e Paulo Henrique Carrer Ribeiro sob a supervisão de Camila Dias de Sá e Leandro Gilio fornece subsídios para melhor compreensão de desafios e oportunidades para navegar nesse cenário complexo. O Brasil precisa estar atento aos desdobramentos do novo arranjo político e preparado para adaptar suas estratégias às novas demandas do mercado.

 

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