Protestos de agricultores na Europa: desafios de competitividade e impactos no agro brasileiro
07/02/24 - Lorena Liz Giusti e Santos | Paulo Henrique Carrer Ribeiro | Camila Dias de Sá
Geopolítica | Meio Ambiente | Política | Segurança Alimentar
Reprodução/X Résistance Paysanne
Insatisfação com a alta dos custos de produção, pressões ambientais e concorrenciais: o que está em jogo na atual onda de manifestações e as implicações para o futuro
Os agricultores na Europa têm protagonizado manifestações em diversos países, como França, Holanda, Bélgica, Polônia, Romênia, Eslováquia, Hungria, Bulgária, Espanha, Itália e Alemanha. As preocupações que impulsionam esses protestos englobam pautas diversas, mas no geral abrangem críticas às políticas agrícolas e ambientais da União Europeia (UE), cada vez mais restritivas, a concorrência de produtos importados — intensificada com a entrada de cereais da Ucrânia em função do acordo para absorver sua produção no contexto do conflito com a Rússia — e a redução das margens devido ao aumento dos custos de produção.
Esses movimentos foram exacerbados nas últimas semanas com os protestos, mas os agricultores europeus já têm expressado há alguns anos receios quanto ao futuro e alegam que as atuais políticas criam um ambiente de competição desleal. Ainda que historicamente contem com subvenções vultosas, eles condicionam o apoio à transição ecológica prevista no Green Deal ao aumento do suporte financeiro.
Na França, maior produtor agrícola da UE, responsável por 18% da produção do bloco, a insatisfação decorre, principalmente, da retirada de subsídios, do aumento nas taxas de consumo de água e das proibições de pesticidas e herbicidas impostas por rigorosas regulamentações de Bruxelas. Ao confrontarem o que chamam de “concorrência desleal”, expressam uma demanda por restrições de mercado contra produtos importados, o que tem provocado manifestação contrária ao Acordo EU-Mercosul pelo próprio governo. Diante desse contexto, a Comissão Europeia anunciou um “diálogo estratégico” com os produtores para garantir condições de produção mais equânimes.
No limite, as manifestações podem exercer tamanha pressão e resultar em prejuízos para além do Acordo com o Mercosul. Um recrudescimento das imposições ambientais aos fornecedores europeus é uma possível implicação, configurando-se uma estratégia adotada para mitigar as tensões derivadas dos protestos. Nessas circunstâncias, embora as pautas ambientais possam não constituir o cerne das intenções, a implementação de medidas dessa natureza tem o potencial de atenuar as agitações internas da UE.
Para saber mais sobre o tema, acesse aqui as entrevistas recentes do coordenador do Insper Agro Global, Marcos Jank:
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