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Cadeias da soja e da agropecuária debatem caminhos para atender às pressões ambientais

21/08/24 - Tiago Cordeiro

Baixo Carbono | Comercio Internacional | Imagem e Comunicação | Meio Ambiente | Política

Cadeias da soja e da agropecuária debatem caminhos para atender às pressões ambientais

Núcleo Insper Agro Global reuniu representantes desses setores para debater o cenário de maior demanda por requisitos de sustentabilidade, especialmente no mercado europeu

Integrado às cadeias globais de abastecimento, o agronegócio brasileiro se vê constantemente impactado por decisões tomadas em diferentes partes do planeta. Muitas dessas medidas unilaterais, que visam garantir que os clientes não comprem produtos obtidos em áreas de desmatamento ilegal, têm desafiado o setor a avançar na capacidade de rastreabilidade e de monitoramento completo das cadeias de fornecimento. O EU Deforestation Regulation (EUDR), que passará a ser aplicado pela União Europeia a partir de dezembro, é uma das principais dessas decisões.

A tarefa apresentada pelo mercado consumidor europeu não é simples, dado que muitas das exigências esbarram em dificuldades de implementação que podem, no limite, impactar os resultados do setor quando se trata de exportação. Foi nesse contexto que, no dia 19 de agosto, o evento “Pressões ambientais na cadeia da soja e da pecuária” debateu esse tema para uma plateia tanto presencial quanto online. O conteúdo é parte do curso Agro e Meio Ambiente, promovido em parceria com a Columbia University, e também parte da programação do ciclo de debates  poiado pelo Agroinsper e Comitê Alumni Agro Insper. O conteúdo permanece, na íntegra, disponível na página do Insper no Youtube.

Participaram Aécio Flores, coordenador de rastreabilidade da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável e vice-presidente da Associação Brasileira das Certificadoras por Rastreabilidade e Auditoria (ABCAR); André Nassar, presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove); e Ricardo Andrade, assessor de Sustentabilidade e Relações Institucionais do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB).

A moderação ficou a cargo de Marcos Jank, professor do Insper e coordenador do Núcleo Insper Agro Global.

O conteúdo debatido guarda relações com o curso “Agro e Meio Ambiente: Desafio Climático Global e Sistemas Agroalimentares Sustentáveis”, realizado em parceria com a Columbia Climate School (CCS), a escola de pesquisa climática transdisciplinar da Columbia University, e que chega à segunda edição.

Impacto para a soja

“As cadeias da soja e da pecuária são as mais sensíveis do agronegócio em relação aos temas ambientais”, comentou Jank na abertura. Nassar lembrou que, em julho de 2006, um pacto conjunto entre Abiove, Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) e governo federal levou à Moratória da Soja, um amplo compromisso de não comercializar, nem financiar, soja produzida em áreas desmatadas a partir de 2008, data de referência do Código Florestal.

“A moratória criou uma cultura dentro do setor. Foi um processo de aprendizado e amadurecimento. Temos há cinco anos uma lista de critérios mínimos que todas as empresas precisam seguir do ponto de vista socioambiental. As empresas têm seus próprios sistemas geoespaciais e o produtor passa por uma análise completa”, disse ele. Mas a mudança promovida pelo EUDR é de outra ordem, argumentou.

“Os europeus começaram debatendo a questão do desmatamento no setor de biocombustíveis, e agora levaram suas regras para o mercado de alimentos”, prosseguiu. “Essa legislação, de certa forma, elimina todas as iniciativas diferentes, porque agora todos os exportadores precisam cumprir a mesma determinação, a da União Europeia. Está impondo, assim, um conjunto de procedimentos que as empresas não faziam”.

Desafios para a pecuária

De sua vez, Aécio Flores e Ricardo Andrade apontaram que o EUDR representa um desafio também para os setores de carne e de couro. “Num primeiro momento, nós seguramente veremos nossas exportações para a Europa despencarem. E sabemos que mais exigências vão vir. A China também deve adotar alguma medida, possivelmente para atendimento do Código Florestal, num primeiro momento. Além disso, já é um país preocupado com a rastreabilidade da cadeia, do ponto de vista sanitário. Olhando para o futuro, cada vez mais teremos que ser capazes de dar respostas para todos esses mercados”, afirmou Andrade.

“O processo de venda de carne para União Europeia já é certificado há praticamente 20 anos, com um protocolo específico, baseado sobre um acordo sanitário que existe entre o bloco e o país. Ele gera uma rastreabilidade de, em média, 120 dias de vida do animal, praticamente a última propriedade onde ele esteve”, disse Flores.

“Agora, com a nova legislação, baseada no registro de desmatamento, vamos precisar expandir a rastreabilidade para o início da vida, o que representa um grande desafio. Atualmente, cerca de 4 milhões de animais abatidos seguem para a Europa todo anos, e estimamos que apenas 10% sejam monitorados no ciclo completo.”

Oportunidades para o futuro

Jank encerrou o debate propondo uma visão de futuro, baseada nas oportunidades que este novo cenário apresenta.

“Muitas vezes, saímos dessas conversas considerando que só tem penalidade, e não tem oportunidade nesse processo. O Brasil é um gigante climático, assim como na parte alimentar e na parte energética. Nessas três grandes agendas globais, temos um papel importante a cumprir. Mas é um país muito heterogêneo, com realidades muito distintas. Temos que encarar essa pressão que vem de fora, esses desafios, como algo que pode nos levar a mudanças. Quando tem incentivo econômico, o produtor brasileiro reage muito rápido.”

Clique aqui para assistir ao evento.


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