ECONOMIA E COMÉRCIO INTERNACIONAL
Como o Brasil se tornou uma grande potência exportadora no agronegócio?
12/05/23 - Leandro Gilio
Wenderson Araújo/Trilux - Sistema CNA/Senar
O grande crescimento da produtividade no Brasil, aliado à grande demanda externa, levou o país a posição de destaque global no agro
O agronegócio brasileiro hoje representa cerca de 1/4 do produto interno bruto brasileiro (PIB), mais da metade das exportações e 1/5 das ocupações no mercado de trabalho brasileiro. Hoje, ocupamos a terceira posição entre os maiores exportadores globais do setor, distribuindo alimentos para mais de 200 países.
A leitura geral desses macrodados indica que há hoje uma vocação da economia brasileira para o agro, algo que se desenvolve desde o início da formação econômica e social do Brasil. O primeiro elo do Brasil com a economia global foi baseado na produção de cana-de-açúcar e os ciclos econômicos posteriores - que formaram as bases do desenvolvimento econômico do Brasil - sempre mantiveram grande relação direta ou indireta com o agronegócio.
No entanto, é enganoso pensar que o Brasil sempre foi uma potência global no setor ou um “grande celeiro do mundo”. Até meados dos anos 1980, o Brasil era importador líquido de alimentos, chegando a ser beneficiário de ajuda externa e enfrentava com frequência situações de insuficiência de oferta alimentar.
Entre as décadas de 1960 e 1980, a população crescia e se urbanizava, sendo preciso modernizar a agropecuária nacional, até então pouco competitiva, tornando-a produtiva o suficiente para garantir a oferta de alimentos.
A revolução que veio a ocorrer foi pautada em fatores como disponibilidade de recursos naturais, fluxos migratórios e o grande desenvolvimento de tecnologia em importantes centros de pesquisa do agro, como as universidades (Esalq, UFV, UFRRJ, entre outras) e centros de pesquisa. Foi na década de 1970 que a Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, se tornou referência mundial ao permitir, com o desenvolvimento de novas sementes e pacotes tecnológicos para “tropicalização” da produção de cultivos, o avanço de grãos como soja e milho, atualmente “carros-chefe” do campo brasileiro em Valor Bruto da Produção (VBP).
Em pleno Cerrado, até então com solo e condições naturais difíceis de serem domados pelas grandes cadeias agrícolas, o avanço da produção de grãos deu início a mudanças estruturais fundamentais cujas consequências hoje são palpáveis, inclusive com uma melhor distribuição da força econômica do país.
Aquele era um tempo em que agricultores da região Sul, já sem muito espaço para ampliar suas áreas de produção e acomodar suas novas gerações foram estimulados pelo governo a partir rumo ao Norte para expandir por lá suas atividades.
Mas a tecnologia mostrou que num Cerrado até então pouco povoado e com poucos setores econômicos pujantes – a mineração era um deles – era possível, sim, criar condições para uma produção de soja altamente rentável. Usada na alimentação humana, mas, sobretudo, para a produção de rações para aves, suínos e gado, a soja não ainda tinha a atual relevância no mercado global, mais acostumado com outros grãos produzidos em larga escala nos EUA, na Europa e na China, entre muitos outros países.
Este foi o caso da soja, mais emblemático, mas o país se desenvolveu fortemente na produção de diversos cultivares, crescendo fortemente em produtividade no agro -recorde global nas últimas décadas -, tornando-se um grande fornecedor global de alimentos a baixo custo. Também são destaque os sistemas de plantio direto e as tecnologias de adaptação de culturas que tornaram possível a realização de múltiplas safras e mais recentemente o desenvolvimento de sistemas de integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF).
E essa expansão ocorreu sem pressionar na mesma magnitude o uso da terra. Diversos estudos indicam que o grande salto de produtividade fora o principal indutor do crescimento da agropecuária brasileira. Isso fez com que a expansão agrícola brasileira fosse marcada por expressivos efeitos “poupa-terra”, ou, em outras palavras: para alcançar a produção agropecuária observada em 2015, sem os ganhos de produtividade obtidos de 1990 em diante, 366,0 milhões de hectares a mais teriam sido necessários (43% do território nacional) (VIEIRA-FILHO, 2018)
O gráfico indica a grande revolução que o Brasil apresentou em termos de produtividade de fatores de produção na agropecuária, comparado a outros países selecionados e à média global.
A revolução em produtividade, então, permitiu que os produtos do agronegócio brasileiro se tornassem competitivos globalmente, incentivando o grande crescimento das exportações brasileiras ocorrido principalmente a partir da década de 90. Dessa forma, o Brasil pôde se tornar um grande exportador global.
Leituras indicadas:
Chaddad, F. (2017). Economia e organização da agricultura brasileira. Elsevier Brasil.
* Utilize esse material como referência livremente.
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GLOSSÁRIO
É o sistema integrado de produção de alimentos, bebidas, fibras, bioenergia e demais bens oriundos de produtos agropecuários. Trata-se de um complexo de cadeias agroindustriais, definidas como uma sequência que percorre insumos, a produção agropecuária, a indústria de processamento e os serviços (distribuição).
É importante não confundir agronegócio com agropecuária ao se avaliar números. Agronegócio compreende o setor como um todo e a agropecuária é um segmento dentro do agronegócio, com os demais segmentos à montante e à jusante.
É uma estimativa realizada com o total da produção e médias de preço. É um indicador simples de desempenho da agropecuária, que representa um faturamento bruto desse segmento do agronegócio. Em geral, esse dado é divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária.
Diferente do valor bruto da produção, o PIB considera apenas os bens finais. Ou seja, se deduz o que é consumido em etapas intermediárias - é uma medida de valor adicionado. Além disso, é um indicador de produto, portanto em seu cálculo é mantido um vetor preços fixos para que se obtenha uma medida de “volume”. No Brasil, o valor do PIB da agropecuária é calculado pelo Sistema de Contas Nacionais do IBGE.
O PIB do agronegócio é um indicador que tem o objetivo de acompanhar a evolução do PIB do setor como um todo, não apenas da agropecuária como é fornecido pelo IBGE. Tal medida é relevante pois os segmentos das cadeias agropecuárias são cada vez mais interdependentes. No Brasil, o PIB do Agronegócio é calculado pelo CEPEA/ESALQ-USP, em parceria com a CNA. Uma questão relevante com relação ao PIB do Agronegócio é que, diferente do IBGE, há a divulgação de dois tipos de indicadores: o PIB-renda do agronegócio, que contempla também as variações de preço e fornece uma medida de renda do setor, e o PIB-volume do agronegócio, que mantém o vetor de preços fixos e produz uma medida de “volume”, mais comparável com a metodologia tradicional do IBGE.
É uma relação entre todos os produtos, expressos por meio de índice, e os insumos utilizados na produção (no caso do agro, comumente considera-se terra, capital e trabalho), também expressos na forma de índice. Tal medida capta o crescimento do produto devido ao uso mais eficiente dos fatores (ou insumos) de produção, indicando, dessa forma, o progresso tecnológico.
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