Especialistas discutem o protagonismo brasileiro na descarbonização global e os desafios do setor
Em um mundo com urgência em buscar alternativas aos combustíveis fósseis, a bioenergia se destaca como uma das principais apostas para a transição energética. O Brasil, com sua matriz energética majoritariamente renovável e condições naturais privilegiadas, encontra-se em posição estratégica neste cenário. Foi neste contexto que o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e o Insper Agro Global realizaram, em 21 de outubro, o painel “Bioenergia na transição energética global”, um debate sobre o futuro da bioenergia e seu papel no combate às mudanças climáticas.
“O Brasil tem dois grandes ativos geopolíticos: a segurança alimentar e a capacidade de mitigar as mudanças climáticas por meio da transição energética”, disse Feliciano de Sá Guimarães, diretor acadêmico do Cebri e professor da Instituto de Relações Internacionais da USP. Ele alertou, no entanto, que esses ativos podem se tornar passivos se não forem bem geridos.
Leandro Gilio, pesquisador do Insper, apresentou um panorama global do setor de energia. Ele explicou que o mundo ainda é altamente dependente de combustíveis fósseis, com o setor de energia respondendo por mais de 70% das emissões de gases de efeito estufa. Enquanto muitos países apostam na eletrificação, a bioenergia se mantém como alternativa estratégica, especialmente para o Brasil, que já possui uma matriz energética predominantemente renovável. “O país tem desenvolvido novas tecnologias, como o etanol de segunda geração e o biometano, que podem desempenhar um papel importante na redução das emissões e no fortalecimento da matriz energética sustentável”, disse Gilio.
“Veículos elétricos não emitem diretamente gases de efeito estufa, mas isso depende de onde a eletricidade é gerada. Se ela vier de uma usina a carvão, o impacto ambiental continua”, observou Luciano Rodrigues, diretor de inteligência setorial da Unica. Ele também apontou problemas práticos nas políticas de incentivo: “Há pessoas comprando carros híbridos caros com incentivos do governo, mas acabam usando gasolina na maior parte do tempo porque não têm onde carregar as baterias”.
O debate enfatizou a importância de expandir o uso do biometano e biodiesel, especialmente em setores como transporte pesado e aviação. “A aviação não pode ser totalmente eletrificada, e é aí que combustíveis como o diesel verde e o hidrogênio verde entram como alternativas sustentáveis e viáveis”, pontuou Rodrigues, acrescentando que mais de 90% da produção brasileira de bioenergia é auditada, garantindo áreas de cultivo livres de desmatamento desde 2018.
Um desafio significativo são as barreiras comerciais internacionais. “A Deforestation Regulation pode se tornar uma barreira não tarifária para o Brasil, impactando diretamente o acordo Mercosul-União Europeia”, alertou Guimarães, referindo-se à nova regulamentação europeia que busca garantir que os produtos consumidos pelos cidadãos da UE não contribuam para o desmatamento ou a degradação florestal ao redor do mundo.
Para consolidar a posição do Brasil como líder global em bioenergia, os especialistas destacaram quatro pontos essenciais: criar um ambiente institucional estável para investimentos, enfrentar barreiras comerciais internacionais, investir em tecnologia e inovação, e melhorar a comunicação sobre a sustentabilidade da produção brasileira.
“O Brasil tem uma matriz energética única, com grande participação de fontes renováveis. O desafio agora é mostrar ao mundo que nossa bioenergia é eficiente, sustentável e pode contribuir significativamente para a transição energética global”, disse Rodrigues.
CLIQUE AQUI e assista ao debate.
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