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Rede une instituições para reposicionar a agricultura tropical e acelerar práticas regenerativas

23/10/25

Rede une instituições para reposicionar a agricultura tropical e acelerar práticas regenerativas

Primeira iniciativa da RIAC é o estudo “Diagnóstico e reposicionamento político-estratégico da agricultura tropical”, desenvolvido pelo Insper Agro Global

Com o propósito de posicionar o Brasil na vanguarda das soluções agroclimáticas, os principais centros de pesquisa e think tanks do país dedicados à transição para uma agricultura mais sustentável anunciaram a criação da Rede de Inteligência em Agricultura e Clima (RIAC). A aliança, de caráter independente e suprapartidário, é composta por Insper Agro Global, Agroicone, FDC Agroambiental, FGV Agro, Instituto Equilíbrio e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.

O objetivo da RIAC é orientar políticas públicas e estratégias privadas com base em evidências científicas e econômicas, promovendo a Agricultura Tropical Regenerativa (ATR) — modelo produtivo que une rentabilidade, conservação ambiental e inclusão social. A abordagem valoriza o uso eficiente de insumos, a restauração dos solos e a integração de sistemas produtivos, tornando a agricultura tropical mais resiliente às mudanças climáticas e economicamente competitiva.

“Com essa rede, unimos instituições de excelência técnico-científica para construir um caminho viável e inclusivo, que beneficie desde a agricultura familiar até a balança comercial do país e o clima global”, afirma Ludmila Rattis, pesquisadora da FDC, do IPAM e do Woodwell Climate Research Center.

 

O papel do Brasil na agricultura tropical

A primeira iniciativa da RIAC é o estudo “Diagnóstico e reposicionamento político-estratégico da agricultura tropical”, realizado pelo Insper Agro Global. O trabalho oferece uma leitura inédita e comparativa sobre o papel dos países tropicais na segurança alimentar global e nos desafios da sustentabilidade.

De acordo com o estudo, os países localizados entre os trópicos de Câncer e Capricórnio concentram 40% das terras aráveis e 52% da água doce do planeta, o que lhes confere papel central no abastecimento alimentar e energético do mundo. Contudo, as trajetórias de desenvolvimento agrícola foram desiguais. Enquanto América Latina e Ásia transformaram o potencial tropical em ganhos expressivos de produtividade e renda, a África Subsaariana permanece presa a um ciclo de baixa produtividade, pobreza e vulnerabilidade climática, agravado pela falta de infraestrutura, crédito e difusão tecnológica

O estudo do Insper Agro Global mostra que a Revolução Verde, iniciada na metade do século XX, foi um divisor de águas na agricultura tropical. No Brasil e em parte da Ásia, o processo de modernização incorporou ciência, tecnologia e políticas de Estado, resultando em um salto de produtividade. No Brasil, a produção de grãos passou de 24 milhões de toneladas em 1974 para 317 milhões em 2024, e a produção de carnes multiplicou-se por dez, transformando o país em um dos maiores exportadores de alimentos do mundo

Na África Subsaariana, por outro lado, a produtividade agrícola cresceu apenas 0,4% ao ano desde 1960, ante 1,2% na América Latina, evidenciando um atraso estrutural. Essa diferença reflete não apenas barreiras técnicas, mas também legados coloniais, políticas agrícolas instáveis e dependência de insumos importados, fatores que mantêm milhões de agricultores em condições de vulnerabilidade.

 

Segurança alimentar e papel do comércio internacional

A pesquisa reforça que a segurança alimentar depende da capacidade de conectar regiões superavitárias e deficitárias por meio do comércio internacional. A América Latina, e especialmente o Brasil, desempenham papel vital nesse equilíbrio: o país responde por quase metade das exportações agroalimentares da região, ajudando a compensar déficits produtivos em países africanos e asiáticos.

Para o Insper Agro Global, a integração Sul–Sul — entre nações tropicais — deve ser o próximo passo da cooperação internacional. Essa estratégia inclui reduzir barreiras tarifárias, ampliar acordos comerciais e criar padrões de sustentabilidade próprios dos trópicos, valorizando as boas práticas já desenvolvidas em países como o Brasil.

“O diagnóstico mostra que o Brasil se tornou uma potência agrícola global e um player fundamental para a garantia da segurança alimentar do planeta", afirma Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global. “Agora nosso desafio e nossa grande oportunidade é justamente liderar o reposicionamento político-estratégico da região tropical do planeta para buscar o reconhecimento dos avanços obtidos como solução para a competitividade e a sustentabilidade da agricultura tropical.”

 

Clima, água e florestas: oportunidades e riscos

O estudo do Insper Agro Global também chama atenção para os riscos climáticos que ameaçam a agricultura tropical. Entre 1961 e 2024, os países dessa faixa apresentaram aumento médio de 1,7°C na temperatura, o mesmo ritmo do aquecimento global. O Brasil figura entre os países com maior elevação — 2,1°C em média, segundo dados da FAO.

Os trópicos concentram mais da metade da água doce do planeta (22,3 trilhões de m³), mas sua distribuição é desigual. A América Latina detém 28% dos recursos globais, sendo o Brasil responsável por quase metade desse total. Apesar disso, a África Subsaariana irrigou apenas 6% de suas áreas cultiváveis, ante 37% na Ásia, o que limita fortemente seu potencial produtivo

Outro dado relevante é o desmatamento acumulado de 241 milhões de hectares nas regiões tropicais entre 2001 e 2024, sendo 73 milhões apenas no Brasil. O estudo ressalta, porém, que a adoção de práticas regenerativas — como sistemas agroflorestais, integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e biotecnologia adaptada — pode transformar o uso do solo em ativo ambiental, combinando produtividade com conservação

 

O Brasil e a liderança tropical

Para Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e embaixador especial da FAO, a criação da RIAC chega em momento crucial: “Por muito tempo, o debate ficou paralisado entre produzir e conservar. Esta rede representa uma terceira via, pragmática e baseada em ciência. É com essa robustez técnica que o Brasil poderá apresentar ao mundo, especialmente na COP30, um projeto de futuro para a segurança alimentar e climática global”.

Ao liderar o primeiro estudo da rede, o Insper Agro Global reforça sua vocação como centro de excelência em pesquisa aplicada e apoiar formulação de políticas públicas para o agronegócio sustentável. O diagnóstico é o ponto de partida de uma série de publicações da RIAC, que abordarão temas como segurança alimentar e energética, adaptação climática, financiamento e biocombustíveis verdes.

 

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