ECONOMIA E COMÉRCIO INTERNACIONAL
Quais as implicações da gripe aviária para o comércio de produtos avícolas?
10/03/23 - Fernanda Kesrouani Lemos
Wenderson Araújo/Trilux - Sistema CNA/Senar
Sem expor a saúde humana a risco, a gripe aviária preocupa mercados quanto à segurança alimentar. A concentração da produção e rápida transmissão pode implicar em dizimação de plantéis em curto prazo e regionalização do comercio.
A influenza aviária ou gripe aviária é um vírus de rápida e fácil transmissão que compromete a sanidade da produção de aves quando causada por subtipos de vírus altamente patogênicos. Os vírus do tipo H5 e H7 são considerados altamente patogênicos a galinhas e outras espécies de aves domésticas e aquáticas. Originou-se na Itália em 1878, onde ficou conhecida como Praga Aviária, mas, o primeiro relato em galinhas data de 1918. A “transmissão” para humanos do vírus H5N1, foi relatado pela primeira vez em Hong Kong apenas em 1997.
Em aves, a gripe aviária de alta patogenicidade foi identificada em 1996, na China, e teve múltiplas ondas de transmissão. Entre 2005 e 2021 mais de 316 milhões de unidades foram dizimadas. As regiões de maior risco de influenza são aquelas onde é comum o contato entre galinhas comerciais e aves aquáticas domésticas e silvestres, como patos e marrecos, seja em áreas rurais ou em centros urbanos como feiras de comércio de aves vivas.
Outro veículo de contaminação e disseminação são os suínos, pois este animal pode ser um hospedeiro vivo da doença. Os locais de produção e comercialização em que há maior convivência entre animais estão mais propensos a disseminação. Embora haja picos de dizimação de rebanhos e da doença, desde 2022 ela vem sendo transmitida entre os continentes e se espalhando pelos países.
Figura 1: Distribuição dos casos de gripe aviária em 2023
Fonte: Insper Agro Global com base nos dados da FAO Empress-I (2023).
O primeiro caso nos Estados Unidos, maior produtor comercial de frangos, foi detectado em janeiro de 2022 em uma ave selvagem, e em setembro do mesmo ano a doença foi identificada em uma granja comercial no estado de Indiana.
Embora a difusão do vírus entre países e continentes aconteça primordialmente pelo fluxo de aves selvagens, o comércio internacional também é um veículo de contaminação extrafronteira, pois o vírus sobrevive ao processo de congelamento. Assim, em caso de precariedade de controles sobre a manipulação da proteína ou descarte indevido, a saúde animal do país importador fica exposta.
A concentração da produção e exportação de carne de frango em poucos players torna-se uma preocupação. O abastecimento de diversos mercados pode ficar comprometido em decorrência das importações serem pulverizadas e desta proteína ser a base alimentar de muitos países e regiões, resultante de preferência de consumo e competitividade em preços em relação às outras proteínas animais.
Fonte: Insper Agro Global com base nos dados da USDA (2023).
A dinâmica de produção e comercialização global expõem um potencial risco de desabastecimento em função da suspensão de comercialização por rígidos controles sanitários. O agravamento de uma situação destas pode elevar o risco de segurança alimentar em diversos países cuja opção de substituição por outra proteína é restrito por questões de mercado e religiosas. No entanto, tem-se adotado medidas de suspensão de comercialização por estados ou regiões, ou denominada regionalização de comércio. Ainda que seja medida que siga diretrizes da OMSA, está sujeita aos acordos bilaterais e às relações de controle sanitário estabelecidas entre países.
Fonte: Insper Agro Global com base nos dados da USDA (2023).
Nota: Mena é a região do Oriente Médio e Norte da África.
A evolução de uma epidemia global de gripe aviária preocupa os mercados devido a sua alta letalidade e necessidade de dizimação do plantel avícola. As consequências de procedimentos em massa como esse são a elevação de preços do frango e a eventual substituição desta proteína por outras como pescados, carne bovina, e suína, considerados substitutos diretos.
Como o vírus não apresenta riscos diretos a saúde humana, após o abate a proteína pode ser disponibilizada no mercado doméstico. Esta medida, no curto prazo, levará a queda dos preços, seguida pela elevação até a recuperação do plantel e status livres de gripe aviária. A recuperação leva em média 28 dias, caso não haja uma nova infestação.
Para que a comercialização não represente um risco de continuidade na propagação, a carne deve ser processada e cuidados devem ser tomados com o descarte. As secreções do alimento, descarte de ossos ou restos da proteína não cozida são veículos de disseminação e servem de alimento para animais silvestres, se constituindo assim, em veículo para propagação em outras regiões. Estas são informações difundidas pelo Brasil alinhado com as medidas da OMSA. Medidas preventivas como o monitoramento de aves silvestres e dos planteis avícolas continuam a ser realizados periodicamente, uma vez que a doença não acometeu o país.
Para baixar os dados:
Leituras indicadas:
Embrapa Suínos e Aves. Sanidade animal – Influenza aviária.
Insper Agro Global. Gripe aviária em países vizinhos acende o sinal de alerta para o Brasil.
* Utilize esse material como referência livremente.
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GLOSSÁRIO
É a autoridade mundial em saúde animal, fundada em 1924 como o Office International des Epizooties (OIE). É uma organização intergovernamental que foca em disseminar informações sobre doenças animais, melhorar a sanidade animal mundial e construir um mundo mais são, saudável e sustentável.
São bens que não fazem parte do mesmo mercado de atuação de um produto, mas que concorrem pelo mesmo tipo de consumidor, pois satisfazem as mesmas necessidades.
É quando há o isolamento de uma determinada zona, região, condado, estado afetado por alguma doença. Programas são criados especificamente para sua prevenção e combate, de modo a evitar a contaminação de outros locais e fechamento de relações comerciais entre mercados, sejam demais regiões do mercado doméstico ou comércio internacional.
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